A tokenização de imóveis é uma inovação que está transformando a forma como as pessoas investem no mercado imobiliário. Por meio da tecnologia blockchain, é possível dividir um imóvel em várias frações digitais — chamadas de tokens — que representam a propriedade ou direitos sobre aquele ativo.
Esse processo permite que investidores de diferentes perfis acessem o mercado com valores menores, democratizando o investimento imobiliário e aumentando a liquidez dos ativos. Mas como funciona, na prática, a tokenização de imóveis? Quais são as etapas envolvidas? Qual a base legal e tecnológica que sustenta esse modelo?
Neste artigo, você vai entender o passo a passo completo do processo de tokenização de imóveis, desde a estruturação jurídica até a distribuição dos tokens e sua negociação em plataformas digitais.
O que é tokenização de imóveis?
Tokenizar um imóvel significa transformá-lo em ativos digitais negociáveis. Cada token representa uma fração daquele bem, podendo incluir direitos sobre o imóvel, participação nos lucros da venda, rendimento de aluguel ou simplesmente um título representativo de uma cota de investimento.
Esses tokens são criados com base na tecnologia blockchain, que garante segurança, rastreabilidade e imutabilidade das informações. Em termos práticos, é como se um imóvel de R$ 1 milhão fosse dividido em 10.000 tokens de R$ 100. Cada investidor pode comprar quantos tokens desejar, tornando-se coproprietário ou credor proporcional à sua participação.
Vantagens da tokenização imobiliária
Antes de mergulhar no funcionamento do processo, vale destacar os principais benefícios:
- Acesso facilitado ao investimento imobiliário
- Maior liquidez, pois os tokens podem ser negociados em plataformas digitais
- Transparência, com todas as operações registradas em blockchain
- Redução de intermediários, diminuindo custos com cartórios, corretoras e burocracia
- Fracionamento do ativo, permitindo que o imóvel seja dividido entre vários investidores
- Velocidade nas transações, com liquidação praticamente instantânea
Essas vantagens são possíveis graças à estrutura técnica e jurídica da tokenização. A seguir, entenda como o processo é feito.
Etapas do processo de tokenização de imóveis
A tokenização de um imóvel envolve etapas interdependentes que garantem segurança jurídica, aderência às normas regulatórias e viabilidade técnica. Veja o passo a passo completo:
Due Diligence e avaliação do imóvel
O primeiro passo é a análise detalhada do imóvel a ser tokenizado. Essa fase é chamada de due diligence, e envolve:
- Verificação da documentação do imóvel
- Certidões negativas de débitos e ônus
- Análise da matrícula do imóvel
- Verificação de pendências legais ou fiscais
- Avaliação de mercado para definir o valor do ativo
Essa etapa é essencial para garantir a segurança dos futuros investidores. Um imóvel com problemas legais não pode ser tokenizado com segurança jurídica.
Veja também: O que é uma Blockchain?

Definição da estrutura jurídica
Existem diferentes formas de estruturar juridicamente a tokenização de um imóvel. As principais são:
- Cessão de direitos creditórios: os tokens representam o direito a recebíveis vinculados ao imóvel, como aluguéis.
- SPE (Sociedade de Propósito Específico): uma empresa é criada para ser titular do imóvel, e os tokens representam participação nessa empresa.
- FII ou Fiagro: os tokens representam cotas de fundos regulamentados pela CVM.
- Contratos inteligentes (smart contracts) vinculados a instrumentos privados com lastro no imóvel.
A escolha da estrutura depende dos objetivos do emissor, do perfil dos investidores e do modelo de negócio.
Emissão dos tokens
Com a estrutura jurídica definida, é feita a emissão dos tokens. Essa etapa é realizada por meio de plataformas de blockchain, utilizando smart contracts que programam as regras do ativo, como:
- Quantidade de tokens a serem emitidos
- Valor de cada token
- Direitos associados (ex: participação nos aluguéis)
- Regras de transferência e governança
As plataformas mais comuns para esse tipo de operação são Ethereum, Polygon, Solana e blockchains privadas autorizadas. É importante escolher uma rede que ofereça segurança, escalabilidade e baixo custo de transação.
Registro e lastro do imóvel
Para garantir a segurança jurídica do processo, o ativo digital (token) deve ter lastro real no imóvel. Isso pode ser feito de várias formas:
- Registro do contrato em cartório
- Vinculação ao CNPJ da SPE que detém o imóvel
- Emissão de escrituras públicas de cessão de direitos
- Anexação de documentos jurídicos nos smart contracts
Esse lastro é o que confere valor e confiança aos tokens. É essencial que todos os dados estejam disponíveis para os investidores em documentos acessíveis e auditáveis.
Oferta pública ou privada
Com os tokens emitidos, o próximo passo é ofertá-los aos investidores. Isso pode ocorrer de duas formas:
- Oferta privada: voltada para um grupo restrito de investidores, sem necessidade de registro na CVM
- Oferta pública: exige registro ou dispensa formal na CVM, de acordo com a Instrução 588 (para crowdfunding) ou a Resolução 160/2022
A escolha entre oferta pública ou privada depende do volume da captação, do número de investidores e da estratégia comercial da empresa emissora.
Distribuição e custódia dos tokens
Os tokens podem ser distribuídos por meio de:
- Plataformas próprias de tokenização
- Exchanges de ativos digitais
- Marketplaces especializados em tokens imobiliários
Após a compra, os tokens são armazenados em carteiras digitais (wallets) dos investidores. A custódia pode ser feita por:
- Wallets descentralizadas, como Metamask
- Custodiantes regulados, em parceria com fintechs
- Plataformas internas com controle de acesso
É importante garantir que o investidor tenha controle sobre seus ativos e possa transferi-los ou vendê-los livremente (respeitando as regras contratuais).
Gestão do ativo e distribuição de rendimentos
Após a venda dos tokens, inicia-se a fase de gestão do imóvel e pagamento de proventos (se houver). A distribuição pode ocorrer:
- Mensalmente, com repasse de aluguéis ou rendimentos
- Ao final de um período, no caso de venda do imóvel
- Por meio de stablecoins, reais tokenizados ou moeda fiduciária
A transparência nas distribuições é essencial. Muitos projetos utilizam smart contracts para automatizar os pagamentos, reduzindo riscos e erros humanos.
Legislação e regulamentação no Brasil
No Brasil, a tokenização de imóveis ainda está em processo de regulamentação mais ampla. No entanto, já existem bases legais que amparam o modelo:
- Código Civil: permite a constituição de direitos reais ou obrigacionais sobre bens
- Lei das S.A. e contratos de participação: aplicável no caso de SPEs
- Instrução CVM 588: regulamenta ofertas públicas via crowdfunding
- Resolução CVM 160/2022: trata de ofertas públicas de valores mobiliários tokenizados
- Marco Legal das Criptomoedas (Lei 14.478/2022): cria o conceito de ativos virtuais e regula prestadores de serviços
Além disso, diversos cartórios e registradores imobiliários já estão integrando soluções baseadas em blockchain, o que tende a facilitar a adoção da tokenização no mercado tradicional.
Veja também: O que são ativos Digitais?

Casos de uso e exemplos no Brasil
Algumas empresas brasileiras estão na vanguarda da tokenização de imóveis. Veja alguns exemplos:
Netspaces
Permite tokenizar imóveis residenciais e comerciais, com foco em investidores que desejam renda passiva com aluguel. Os tokens podem ser adquiridos a partir de valores acessíveis, e o investidor recebe os rendimentos mensalmente.
BlockBR
Oferece soluções de tokenização para ativos alternativos, incluindo imóveis, precatórios e recebíveis. Atua com infraestrutura regulatória e suporte jurídico.
RealT (internacional)
Embora baseada nos EUA, é uma das referências globais na tokenização de imóveis. Já tokenizou dezenas de propriedades e permite que brasileiros invistam com valores baixos.
Hurst Capital
Utiliza tokenização para diversos ativos, incluindo imóveis e litígios. Opera com estrutura jurídica sólida e oferece plataforma própria de negociação.
Riscos e cuidados ao investir em imóveis tokenizados
Apesar das vantagens, a tokenização de imóveis também envolve riscos. Entre os principais:
- Risco jurídico: se o contrato ou estrutura não estiverem bem redigidos, pode haver insegurança jurídica
- Risco de mercado: variação no valor do imóvel ou da demanda por tokens
- Baixa liquidez em algumas plataformas
- Riscos operacionais, como falhas nos smart contracts ou fraudes
Por isso, é fundamental analisar:
- A empresa emissora e sua reputação
- A estrutura jurídica e a documentação
- O imóvel lastro e sua valorização
- A plataforma de negociação dos tokens
- A existência de garantias legais, auditorias ou seguros
O futuro da tokenização imobiliária
A tokenização de imóveis ainda está em seus estágios iniciais, mas o potencial de crescimento é imenso. Com o avanço das regulamentações e o aumento da adoção da blockchain, espera-se que:
- Mais imóveis sejam tokenizados por incorporadoras e fundos
- Os cartórios adotem registros em blockchain
- Plataformas façam integração com bancos e corretoras tradicionais
- Tokens imobiliários sejam usados como colaterais em operações de crédito
Além disso, a tokenização pode viabilizar novos modelos de negócios, como:
- Imóveis fracionados para uso pessoal (timeshare tokenizado)
- Crowdfunding imobiliário global
- Tokenização de terrenos para desenvolvimento urbano
O processo de tokenização de imóveis representa uma revolução no mercado imobiliário. Ele combina tecnologia, inovação financeira e novos modelos de propriedade para tornar os investimentos mais acessíveis, transparentes e líquidos.
Para quem deseja investir com segurança, é essencial entender todas as etapas do processo, analisar os riscos e escolher plataformas confiáveis e bem estruturadas. À medida que o setor amadurece, a tokenização tende a se consolidar como uma das principais formas de investimento imobiliário nos próximos anos.
Veja também: O que são ativos Digitais e como eles podem mudar o mercado financeiro?